Este livro procura retomar as análises que fundamentam o jornalismo como forma de conhecimento vinculada necessariamente à vida cotidiana e associada ao ideal iluminista de esclarecimento, considerando que a oferta de informações obedece a procedimentos específicos dessa prática profissional, aqui explorada em suas possibilidades e limitações e controlada com as condições de produção dominantes. O jornalismo teria, assim, no postulado iluminista que o orienta, a própria origem do seu dilema: lidar com a imediaticidade dos fatos com um distanciamento capaz de conferir-lhes sentido, lidar com a vida cotidiana com a perspectiva de fornecer-lhe elementos de crítica. Procurando afastar-se desse misto de fatalismo e idealismo que, contraditoriamente, convoca pura e simplesmente à resistência após descrever um quadro de absoluta impossibilidade de fuga ao sistema, a autora busca demonstrar que a estrutura de dominação não é de tal forma tentacular que impeça a expressão do trabalho criador - mesmo porque, se fosse, nenhuma alternativa seria possível. Assim, propõe-se a investigar, na análise da própria estrutura do cotidiano, os elementos que permitam vislumbrar uma produção jornalística à contra-corrente, orientada no sentido de "pensar contra os fatos" - isto é, contra sua naturalização - e, portando, de interpreta-los de modo a ajudar na formação de um novo senso comum.