Terra-mar é uma imagem de litoral, o enigma literário que Jacques Lacan plantou em “Lituraterre”, um texto que, em estilo elíptico e elusivo, diz respeito à relação entre saber e gozo. Por que trazer essa imagem para figurar a articulação entre a psicanálise e outros campos de saber? Litoral não é fronteira, não é algo que se transite, nem medida comum. Litoral é território de conflito, de entrechoque, de contraste: é a figuração da não-relação entre letra e significante. A atualização mais radical dessa não-relação é corpo-linguagem, vale dizer, a escrita da pulsão enquanto processo constitutivo de zonas erógenas – a letra enquanto trilhamento, ferida-cicatriz provocada pela incisão-inscrição do significante na superfície sensível do corpo.