"UMA GARRAFA, ISTO É UM VIDRO CEGO. Esse é o título do primeiro poema do Tender buttons, de Gertrude Stein. Aí já começamos a ver alguma coisa. Ou melhor, a não ver. Porque quando se trata de Stein, não é de transparência o vidro que estamos falando. Mas de opacidade cego. Não que o sentido seja totalmente eliminado. Nas descrições insólitas que ela faz de objetos, de alimentos ou de quartos, algo do referente permanece. Mas a linguagem em si é decomposta e recombinada. Algo como fazem os cubistas com suas formas, Picasso, Braque. Não à toa, amigos e referências de Stein. No caso dela, porém, estamos em território textual, não visual. Daí o estranhamento maior. Stein pega as palavras e as trata como objetos, como pecinhas. Criança que desmonta o brinquedo e remonta de um jeito inédito. Esqueça a gramática e pense em batatas, escreveu ela no livro How to Write, de 1931. Tem coisas que Stein não nos deixa esquecer. Primeiro, que é de linguagem que se trata, como foi dito. Não é (...)