O tema explorado por Ruzza neste livro consiste na relação entre fé religiosa e pensamento crítico iluminista francês. Se comparadas às britânicas e às alemãs, as Luzes francesas de Voltaire, Diderot, D’Holbach e até mesmo as de Rousseau, além de muitos filósofos menos conhecidos, são indubitavelmente mais radicais e engajadas, quando o assunto é religião. Isso pode ser explicado pela lei física da ação e reação, ou seja, em grande medida como um reflexo da própria radicalidade do ambiente político e social da França absolutista, no qual a nobreza e o clero eram unidos na defesa dos seus interesses e dos seus dogmas. Tanta intolerância e repressão só poderiam motivar o surgimento de um pensamento rebelde e militante, às vésperas da Revolução. Eis porque nas Luzes francesas a crítica religiosa não se limitou ao anticlericalismo, à refutação dos dogmas católicos e à proposta do deísmo, como em outros iluminismos do período. A união entre coroa e batina no Ancien Régime fecundou também, embora com menor expressão, o materialismo e o ateísmo.