A imagem do Brasil assim como a imagem de qualquer povo não é produto da história tal como vivenciada, mas tal como foi contada. Ela é resultado de uma seleção narrativa que prioriza certos eventos em detrimentos de outros, realça certas visões mais pelo desejo que pela objetividade; é tecida em torno de eventos heterogêneos e, por vezes, discrepantes, num espaço de tensão entre memória e esquecimento. Particularmente no caso brasileiro, a imagem predominante do povo e da política nacional está constantemente associada, de modo pejorativo, ao atraso, à passividade e à corrupção. Assombrada por essa narrativa negativa da experiência brasileira, o povo é identificado quase sempre como ausência e a política como lugar único ou privilegiado de interesses pessoais, de malandragens e roubalheiras. Preso a um discurso compulsivo-repetitivo, o Brasil parece sofrer de um complexo de inferioridade, refletido na imagem estagnada da corrupção congênita do Estado como causa de todos os males sociais. É sobre os riscos e as patologias dessa identidade contada de uma vez por todas que esse livro se coloca a pensar. A proposta aqui foi de examinar particularmente a bandeira anticorrupção que culminou nas jornadas de junho de 2013 e que se encontra presente fortemente nos dias de hoje, suas implicações para o discurso constitucional e a sua importância para interpretar o Brasil desde então.