Em mais de cem anos de guerra às drogas: a demanda por drogas continua em expansão, o narcotráfico se mostra cada vez mais poderoso, a população carcerária se inflacionou e os usuários se mantêm distantes do acesso à saúde, em virtude do estigma e do medo da repressão. Em paralelo, as pessoas continuam a consumir, com o aval do Estado, uma grande variedade de outras drogas psicotrópicas, a exemplo de tabaco, álcool, antidepressivos, cafeína etc. A criminalização é de todo controvertida, pois envolve escolha individual que por si não atinge a esfera jurídica alheia, de forma que o controle penal confronta a pessoa não por seu comportamento lesivo, mas sim pela escolha moralmente censurável. Neste contexto repressivo, de racionalidade questionável, a compreensão crítica e não meramente descritiva do modelo proibicionista de guerra às drogas revela-se como objeto de pesquisa relevante e plenamente justificado.