“Que o sol da narração permaneça sempre sobre a nona terra, a que só poderá ser destruída com o derradeiro alento de vida.” É assim que termina “A repetição”, de Peter Handke, um dos mais talentosos autores de língua alemã. É assim que poderia, de certa maneira, começar, pois a obra é, acima de tudo, uma declaração de amor à linguagem e à existência. Aos 20 anos, o jovem Filip Kodal, filho mais novo de uma família de camponeses, empreende uma longa viagem em busca do paradeiro de seu irmão mais velho, Gregor, supostamente um revolucionário e um desertor. Munido do diário de Gregor e de um dicionário de esloveno-alemão, vai aos poucos reencontrando seu passado e abrindo suas percepções para a literatura. Num estilo firme, que traz à tona elementos de suas obras anteriores – a ênfase na palavra e no pensamento, a pesquisa cuidadosa que inclui passagens cabalísticas.