Francisco Weffort acompanha neste livro a formação do pensamento político brasileiro desde suas preliminares culturais mais distantes, na história da Ibéria e de Portugal. No país recém-descoberto, as origens do nosso pensamento político se acham nos séculos XVI e XVII, quando Manuel da Nóbrega e Antônio Vieira, defendendo a humanidade dos índios, suscitaram as primeiras indagações sobre as gentes desta parte do mundo. No século XVIII, o Marquês de Pombal estabeleceu a prevalência do Estado sobre a Igreja, reconheceu a igualdade dos judeus e a liberdade dos índios. Esboçavam-se assim, desde a colônia, temas da política que no século XIX, após D. João VI, deram partida a idéias e utopias do Brasil independente, algumas das quais chegaram ao século XX. Sob Pedro I, José Bonifácio queria abolir a escravidão, criar um povo plural e mestiço, de brancos, índios, negros. Sob Pedro II, Joaquim Nabuco queria destruir não só a escravidão, mas também a miséria e a extrema desigualdade do país. Na virada para a I República, Euclides da Cunha foi o narrador sincero do choque da "civilização" contra a "barbárie", como se dizia, na época, dos pobres de Canudos. Algumas dessas idéias foram desenvolvidas, no início da "era de Vargas", em linhas diferentes, por Oliveira Viana, Gilberto Freyre, Caio Prado e Sergio Buarque. Em meados dos anos 50, essa herança foi retomada por Helio Jaguaribe e demais fundadores do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), que buscaram reconhecer o povo e o Estado que poderiam levar o país ao desenvolvimento e à democracia. Este livro de Francisco Weffort narra a grandiosa trajetória das idéias que construíram o Brasil. Uma trajetória que vale a pena conhecer pelo muito que essas idéias fizeram pelo país. Mais ainda pelas perguntas que formularam e que permanecem sem resposta, e pelos sonhos que construíram e permanecem irrealizados.