Estas "Odes do desespero", de Leila Echaime (poeta de vasta e variada obra), estão no fio da tradição, impregnadas também pelo tom elegíaco e por um impulso vital de busca do que foi perdido no tempo escoado para algum lugar que a existência não revela qual é. Há um enigma subjacente nessas odes, que caberá ao leitor enfrentar: aí estão o amor e a morte, e o desespero da busca, tudo pelo filtro feminino, através do olhar da mulher. Parece que essas Odes guardam certas ressonâncias camonianas (e neoplatônicas), uma vez que as perdas da vida vivida ameaçam a linguagem, a persistência da poesia e juntamente as identidades que a memória luta por preservar e revelar, mas soçobra como a nave nos mares do tempo e dos temporais.Na estrutura das formas poéticas as odes são livres como poemas do gosto modernista. Rimas sem esforço e sem procura, toantes e consoantes, sempre decorrentes do fluxo do pensamento, pois são poemas sobretudo pensantes. E obsessivos na busca, talvez metafísica, do sentido: da morte, do sonho, do amor, do desespero, da experiência e de saber para onde foi todo o vivido. Estaria tudo no íntimo, na cidade, nas ruas? Num recanto obscuro de cada poema, contudo, permanecem os escombros (as ruínas?) acumulados dos dias do sol posto e da elegia do impulso vital, que, entretanto, falam pela poesia.