Nunca é possível reconhecer o último momento de felicidade que antecede uma tragédia. Seja ela o ataque às torres do World Trade Center, seja o cruel bombardeio aliado sobre Dresden, que arrasou a cidade e a população civil da histórica cidade alemã na Segunda Guerra Mundial. Portanto, dificilmente há tempo de verbalizar o amor que se sente pelas pessoas próximas que, por um golpe do destino, tornam-se distantes. Esta constatação e os dois acontecimentos históricos guiam Extremamente alto & incrivelmente perto, segundo romance de Jonathan Safran Foer, autor do aclamado Tudo se ilumina, e um dos convidados para a Festa Literária de Paraty 2006. O principal narrador do livro, Oskar, é um menino extremamente inteligente de 9 anos de idade, sofre com a morte do pai, uma das vítimas do ataque ao World Trade Center, que estava no local da tragédia por um mero acaso: uma reunião no Windows of the World, o restaurante no último andar de uma das torres. A dor de Oskar não vem só da perda, mas do fato de julgar ser o único a ouvir as últimas palavras emitidas pelo pai, deixadas numa secretária eletrônica. O grande mérito da história de Foer é que Oskar é uma criança intelectualmente bem-dotada, aparentemente maduro para sua idade, mas, ainda assim é uma criança que não tem idéia de como lidar com a dor e usa a imaginação para criar inventos absurdos e escrever cartas para celebridades do mundo científico, oferecendo-se como pesquisador assistente. É essa mesma imaginação fértil que o levará a se transformar em detetive, após encontrar uma chave, que aparentemente nada abre, entre os guardados do pai. A investigação sobre essa chave lhe abrirá as portas para o mundo real e para a história de sua família, que é contada nas narrativas paralelas de seus avós. Sobreviventes do bombardeio que matou 50 mil civis na cidade de Dresden na Segunda Guerra que muitos historiadores afirmam ter sido um ataque terrorista perpetrado pelos aliados os avós de Oskar também viram seu mundo ruir. A avó superou a dor. O avô, não. Ainda assim sobreviveram. A narrativa é conduzida não apenas por frases e parágrafos, mas também por palavras dispersas, grafismos, cores, fotos, códigos numéricos e textos sobrescritos. Tais recursos são muito mais que maneirismos estilísticos; exemplificam a dificuldade de estabelecer comunicação, de achar as palavras certas no momento certo. Uma inteligente metáfora para os personagens de Foer, pessoas que amam profundamente, mas têm extrema dificuldade em dizê-lo.