Diante dos restos da muralha de tijolos do gueto, me peguei olhando as pedrinhas depositadas na fenda como objetos de lamentação, lágrimas cristalizadas à espera de uma palavra, mas que fosse outra além da oração unicamente. Lembrei-me então da alegoria utilizada por Gustawa Jarecka, membro da Oyneg Shabes, pouco antes de ser levada para Treblinka, onde morreria em janeiro de 1943, com seus dois filhos: “A crônica [que nós escrevemos no gueto] deve ser lançada como uma pedra sob a roda da história a fim de pará-la. [...] Podemos perder toda esperança, exceto esta: que o sentido do sofrimento e das destruições desta guerra surgirá quando eles forem considerados de longe, numa perspectiva histórica”.