Este livro não é um manual. Ele apresenta experiências simples e acessíveis a todos aqueles que se interessam pela leitura e por livros na sociedade contemporânea. EmDeixem que leiam, a conferencista e bibliotecária Geneviève Patte, fundadora da revolucionária biblioteca infantil de Clamart, expõe pela primeira vez para o leitor brasileiro sua experiência com a promoção da leitura, os efeitos dela e também os novos caminhos que são exigidos para os profissionais comprometidos com a cultura e educação diante das novas tecnologias. Reconhecida internacionalmente não somente pelo seu trabalho como bibliotecária, mas como uma personalidade intelectual vinculada à pedagogia e educação infantil, Geneviève Patte não discute somente a questão do hábito da leitura. Para ela, ler é resultado da vontade de conhecer, da curiosidade intelectual e do desejo de escutar relatos e brincar com a linguagem. Se os jovens adultos não leem, não é porque não teriam lido na infância, e sim porque desde cedo lhes foi negado o desejo de aprender, a capacidade de formular perguntas, de se espantar e indagar. Em Deixem que leiam, o leitor também tem a oportunidade de acompanhar o itinerário da autora como bibliotecária. Ela iniciou sua carreira com uma pequena equipe, em Clamart, cidade da periferia parisiense, ambiente por princípio nada propício social e culturalmente para o estímulo à leitura. Lá, desenvolveu um trabalho modelar, adequando e adaptando a biblioteca à realidade social e cultural da cidade. Um dos diferenciais da iniciativa foi a criação de estímulos que tornassem o ato da leitura uma experiência compartilhada e, acima de tudo, prazerosa. Neste contexto, Patte criou e implementou a biblioteca para crianças chamada La Joie par les livres. Esta empreitada bem sucedida permitiu a criação de fortes elos entre crianças e adultos, laços estes constituídos principalmente a partir do hábito da leitura. Apoiada pelo governo, o projeto ultrapassou as fronteiras da França e ganhou contornos internacionais. Geneviève Patte descreve suas experiências itinerantes como divulgadora e facilitadora de um novo modelo de bibliotecas em países da África e da América Latina, inclusive no Brasil. Para a autora, as boas ideias são simples e isto também se aplica na relação que se estabelece entre as partes envolvidas no processo de divulgação e estímulo à leitura. O detalhe mais ínfimo, o menor gesto, a palavra súbita, tudo pode portar significado. É preciso estar sintonizado com o universo sutil da alma infantil. Além disso, o conceito de rede é de extrema importância para o bibliotecário e para o funcionamento das bibliotecas. A Internet deve ser uma facilitadora, apta a promover a ajuda mútua e a troca de informações. A infância está no coração de seus encontros. A autora também destaca que não adianta forçar o interesse precoce pela leitura. Trata-se, ao contrário, de passar um tempo ao lado da criança pequena e fazê-la provar, bem à vontade e antes do estresse das primeiras aprendizagens, o prazer maravilhosamente gratuito dos primeiros encontros com o livro. Patte destaca que a leitura é também relação. Relação nos dois sentidos da palavra - relato e ligação com o outro. Ela permite o encontro com os personagens do livro e também com aquele que transmite a história. O leitor adulto também se beneficia. A criança enriquece o olhar do adulto, acorda a infância esquecida e, no encontro, o coloca à sua altura, no mesmo diapasão que ele. Como mediadores, os bibliotecários devem colocar a pessoa humana em primeiro lugar. A biblioteca deve ser um espaço encorajador para que cada um siga seu próprio caminho. Desse modo, ela é um espaço onde a expressão das diferenças é possível, desejável e encorajada. Este é um livro para pais, professores, educadores, psicólogos e para todos que de algum modo se sintam comprometidos com a melhora de qualidade cultural e social dos homens. Com um humanismo tocante, Geneviève Patte convida o leitor para um ininterrupto encontro com os livros e também com todos aqueles que estão comprometidos com o aperfeiçoamento e evolução do ser humano.