Quando criança, o piauiense e futuro cineasta Miguel Borges esperava os adultos dormirem e ia para o galpão de uma usina. Fazia isso nas noites de lua cheia, a fim de, juntamente com outras crianças, poder ouvir o esturro da onça pintada. Segundo suas próprias palavras, o "esturro longínquo e o luar prateado se casavam em nossas almas". É esse homem admirável, capaz de criar imagens belíssimas, seja com palavras, seja com uma câmera, que está em Um Lobisomen Sai das Sombras. Após se mudar para o Rio de Janeiro, ainda nos anos 50, enturmou-se com a trupe que engendraria o Cinema Novo: Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Paulo César Saraceni, Leon Hirszaman, dentre outros. Estreou na direção com Zé da Cachorra, episódio do filme coletivo Cinco Vezes Favela, financiando pelo Centro Popular de Cultura da UNE. No decorrer das décadas de 1960, 1970 e 1980, dirigiu longas-metragens (Maria Bonita, Rainha do Cangaço, As Escandalosas, O Caso Cláudia", produziu outros (A Cartomante, Fogo Morto), escreveu roteiros (Tati, a Garota, A Noiva da Cidade) e também trabalhou como montador (Emboscada, Fogo Morto). Um Lobisomen Sai das Sombrar detalha a carreira de Miguel Borges em primeira pessoa, ou seja, pelas próprias palavras do biografado.