Uma cidade portuguesa, com certeza. Apesar das tentativas de fazer do Rio de Janeiro a Paris dos trópicos, a cidade maravilhosa é mesmo um burgo lusitano. Afinal, não há creme brulée que se compare a um bom bolinho de bacalhau, regado a chope e azeite - português, claro - numa noitada com amigos. Em OS LUSÍADAS NA AVENTURA DO RIO MODERNO, o economista - e apaixonado confesso pelo Rio - Carlos Lessa reúne ensaios que falam da vastidão e profundidade das marcas da cultura lusa no espírito e ruas da cidade. Nos catorze ensaios do livro, historiadores, sociólogos, escritores discutem essa influência em áreas como arquitetura, gastronomia, movimentos sociais e música, entre outros temas. OS LUSÍADAS NA AVENTURA DO RIO MODERNO começou a nascer no seminário A presença portuguesa no Rio de Janeiro, que reuniu, no Real Gabinete Português de Leitura - uma biblioteca, no centro do Rio de Janeiro, com as mais importantes obras de língua portuguesa já publicadas e uma fachada de estilo gótico manuelino inspirada nas construções da velha corte lusitana -, um conjunto de intelectuais e especialistas para discutir o intercâmbio Portugal-Brasil. O livro identifica, entre as muitas dimensões dessa parceria, as que têm sua fonte na capital da colônia, na cidade que subverteu todos os conceitos da época e virou sede do governo de todo o império português, ao abrigar a família real quando de sua fuga das tropas de Napoleão, em 1808: São Sebastião do Rio de Janeiro. OS LUSÍADAS NA AVENTURA DO RIO MODERNO passeia pelo passado do Rio de Janeiro desde antes da confusão urbana causada pela chegada da corte até a afirmação de São Cristóvão como o bairro mais português da cidade. Passa pelos significados insinuados na paisagem urbana e busca, nas velhas freguesias, vestígios, símbolos lusos. Nelas aponta ora mais, ora menos oculto o gosto dos vice-reis, dos arquitetos, dos artesãos e mestres-de-obras portugueses, que continuaram presentes no Império e mesmo na República. Hoje, dobramos uma esquina e estamos, subitamente, num cenário de Machado de Assis, ou da crônica de João do Rio, mas sempre na companhia de Eça ou Fernando Pessoa. O livro também lembra o intenso fluxo de imigrantes vindos da antiga metrópole. Portugueses procurando oportunidades no novo mundo, fugidos da crise econômica, ou, mais recentemente, da ditadura de Salazar. Os números levantados mostram que a maioria dos imigrantes era de homens sozinhos que, entre 1820 e 1972, chegaram a representar um terço dos 5 milhões e seiscentos mil estrangeiros que aportaram no Brasil. Aqui, o português estabeleceu família e nos legou etiquetas, nomes, instrumentos, procedimentos e até times de futebol. Além das tradicionais agremiações. Organizações comunitárias da colônia lusa são parte da história do Rio de Janeiro e do Brasil. Carlos Lessa nasceu no Rio de Janeiro e se formou em economia pela antiga Universidade do Brasil, em 1959. Depois disso, trabalhou na CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe - e foi professor fundador do curso de economia das universidades de Campinas e Federal Fluminense. Atuou, ainda, na política e se destacou nos cargos de presidente da DETEN e diretor do BNDES. Atualmente, Lessa é professor titular de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde ocupa o cargo de decano do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas. Carlos Lessa é autor, também, de O Rio de todos os Brasis.