Como diz o autor logo no início, este livro não é um manual, "no qual conceitos são entregues de um jeito tão mastigado, que já não têm mais nenhuma densidade e nenhum sabor". O que o filósofo Charles Feitosa faz, na verdade, é apresentar uma breve história da filosofia contando com a preciosa ajuda da arte, que tanto pode estar representada numa pintura renascentista, como no filme Matrix, no desenho Os Simpsons ou no conjunto de punk-rock Sex Pistols. Ricamente ilustrado, o livro mostra como a imagem do filósofo velho e eremita, vivendo no mundo da lua, influenciou pintores como o holandês Rembrandt, cujo quadro Filósofo em meditação é retratado aqui. Essa imagem estereotipada mudou, mas Feitosa, que é doutor em filosofia pela Universidade de Freiburg, na Alemanha, ressalta como o mundo atual, que privilegia ações de resultados imediatos, despreza a filosofia, "que não serve para construir casas, barcas ou remédios". Segundo o autor, a importância da filosofia, assim como da arte, está em "modificar o olhar sobre o real, desconfiar do mundo tal como o conhecemos, preparando o terreno para a construção de novos mundos". Para isso, ele compara o olhar do filósofo, mais observador e detalhista, com o que chama de "olhar videoclipe", feito de cortes bruscos, enredo fragmentado, fusões e sobreposições de imagens. A melhor junção entre filosofia e arte encontrada no livro é a que compara a "alegoria da caverna", de Platão, com o badalado filme Matrix, rico em efeitos especiais computadorizados. Apesar de muito distantes no tempo, as duas obras descrevem a experiência de alguém que descobre que o real pode ser posto em dúvida. "Admitir a pluralidade de verdades pode acarretar insegurança e exigir mais responsabilidade, mas também traz consigo mais liberdade e alegria. A escolha, como sempre, é de cada um.