A mente do artista é sempre um Caos. É uma mistura indescritível de tudo-isso-e-mais-um-pouco, uma mistura que procura uma forma para nascer, um Caos que busca ser Cosmos ou, pelo menos, um pedacinho dele. No poeta, o Caos mistura sentidos e sentimentos, imagens, dores e cores puras, vácuos muitos vácuos repletos de beleza em estado puríssimo, pois é justamente no vazio absoluto que a beleza pura habita em palavras. As palavras oh! As palavras! serezinhos teimosos e indisciplinados que nascem na mente de um poeta gerando absoluta desordem, que, quando a boca e a pena estão caladas, insistem em fugir pelos olhos e pelos ouvidos, que têm que ser resgatadas à força e com lágrimas, que precisam de um cosmético que as ordene. A poesia é o cosmético da linguagem. É a poesia que dá ordem ao Caos que reina absoluto na mente do poeta. É a poesia que torna em microcosmo o que antes era só Caos cheio de indescritíveis vácuos cheios de beleza em estado bruto, puro, vazio! E a beleza agora nasce vestindo as palavras como se fosse um delicado véu branco de seda fina que deixa entrever as formas voluptuosas de cada sentimento e de cada sentido, de cada pensamento e de cada intenção ali incrustadas naquelas singelas formas-palavras que há pouco bem pouquinho! compunham a grande desordem o Caos na mente do poeta. A ordem cosmética que agora se instaura com as palavras recém-poetizadas chega aos nossos sentidos e tem forma e tem cheiro e tem face e emociona e irrita e constrói [...] e destrói! As palavras vestidas de seda fina nos enganam e nos tomam de assalto! Sim! Cuidado com elas! Elas nos iludem com seu jeitinho meigo! Palavras são coisas perigosas! Palavras invadem nossa mente e sempre têm saudades de sua vidinha antiga lá no Caos, na desordem pura [.:.].