'Sol sobre a montanha' é uma leitura instigante. Dessas peças que primam por prender a atenção e estimular toda a sorte de expectativas no caro leitor, entregue à paixão atávica pela vida expressa nessa delicadeza do escrever de Mário Scherer. Bruxo com as palavras - no sentido arcaico do termo, já que o Aurélio é cruel e leigo tio assunto - o autor caminha pelas vielas tortuosas e nem sempre seguras da dita literatura esotérica com a desenvoltura de um expert e a elegância e a sobriedade que caracterizam as grandes obras. Talvez porque o autor saiba, como poucos, sobre o terreno em que semeia seu texto, mas, certamente, porque Sol sobre a Montanha ultrapassa ad infinitum o que se convencionou catalogar como literatura esotérica. Traga-se aqui de literatura simplesmente, e boa literatura. Um verdadeiro romance multifacetado e nada linear, que respira os ares do que há de mais audacioso no romance produzido nesses dias de inovações e indefinições que o fim do milênio nos apresenta - sem declinar da benfazeja influência dos clássicos, no estilo da narrativa e na aura de mistério que fazem o deleite do leitor desde as primeiras páginas. A busca do auto-conhecimento e da harmonia com todas as energias do cosmo, a contemplação e a interação com a natureza xamânica das coisas não é só o leitmotiv deste livro - é quase um personagem, tamanha a força mística que exala destas páginas.