Mais difícil do que a compreensão teórica e a justificação política do fim do socialismo é a sua elaboração interior como perda, como luto, como ilusão, como engano, como culpa. Este livro nos dá um roteiro possível, uma agenda plausível para o trabalho de luto das esquerdas pelo viés da relação entre utopia e melancolia. O século 20 será conhecido como o século que fracassou na empresa de fazer um uso prático, imediato demais, de teorias na filosofia e nas ciências sociais para a transformação do homem e da história. Com o fim das ideologias extraídas dos paradigmas filosóficos, espera-nos, no limiar de um novo milênio, o humano imponderável da pós-modernidade. Se Walter Benjamin viu nas esquerdas e suas construções uma das bimilenares metamorfoses da melancolia e fala na melancolia da esquerda, o autor liga utopia e melancolia para examinar mecanismos interiores que operam nos indivíduos na busca das utopias, e que diante do seu fim lutam com as sombras da melancolia. O autor não se contenta em analisar apenas a elaboração do luto das esquerdas, mas ainda aprofunda as diversas formas de melancolia na história ocidental. Assim, identifica uma melancolia do gênio, uma melancolia política e uma melancolia patológica. Também mostra as crises de identidade que explodem nos militantes que subitamente descobrem que revolução sem emancipação (pessoal, interior) é contrarrevolução e procura pensar os agora órfãos de utopia, todos os transformadores do mundo, os revolucionários, confrontados com a ética e o imaginário da revolução. Até que ponto, afinal, a experiência do fim do socialismo deve ser iluminada como o mito de Sísifo? Começar de novo, quando a pedra voltou a rolar da montanha? No fim do milênio, Sísifo manda lembranças. A psicanálise trabalha muito com a repetição, o eterno retorno do mesmo, o que ela diz da melancolia? É o que mostra o pós-escrito Melancolia: aspectos analíticos-existenciais. E. S.