Um dos maiores medos da Humanidade, ao lado do mistério, que envolve a sua origem e o desenlace de cada um, na Terra, é, indubitavelmente, o estado indelével de solidão. A solidão, ao manifestar-se em dores oceânicas, é capaz de devorar universos inteiros e aplacar a própria existência assim como o Tempo, que, insaciável e irracional, engole seres e coisas de forma cruel na garganta do Infinito. Os seres humanos, condenados ao silenciamento de suas vozes, atravessam terras, trilhas siderais e pontes etéreas; todos juntos, mas paradoxalmente, solitários. São todos, sob os cílios da poesia, verdadeiros cardumes; afogados em dúvidas, memórias efêmeras e em angústias mortais. É sob o primado da angústia que todos, indistintamente, homens, mulheres, infantes e anciãos sucumbem diante da morte, a única e inconteste justificativa para a vida. São peixes desaguados em suas próprias dores, nadando sem direção em leitos marinhos ou condenados a peregrinarem sob a areia firme sem jamais saberem de onde vieram e para onde vão. Em curvas parabólicas, paira a mensagem indecifrável do Ser que, ciclicamente, aprisiona os seres humanos em verdades que jamais emergirão, tornando-os reféns da dúvida, do sofrimento, da melancolia, do emudecimento, e, por fim, do desfazimento, quando o esquecimento reduz homens e peixes; anjos e deuses; luz e escuridão ao repouso eterno da palavra; verbo que vivifica, lógos que mata, apagando e acendendo a chama eterna da existência. Da solidão todos vieram, homens e peixes; para a solidão todos retornarão, peixes e homens.