Uma das pragas de nossa época, sintoma de uma sociedade em crise que procura preencher o vazio interior com a admiração externa, a busca da celebridade tem feito vítimas e glorificado imbecis. A maior parte deles aparece e some com rapidez. São os quinze minutos de fama, a que se referia o pintor norte-americano Andy Warhol, o que não desestimula, antes parece incentivar milhares de candidatos.A busca da fama a qualquer custo é o tema de O Anônimo Célebre, de Ignácio de Loyola Brandão. Sarcástico, debochado, impiedoso, esse "reality romance", como diz o subtítulo, conta uma história de amor, a de Letícia, e várias sub-histórias de anônimos em busca da celebridade.As formas e as fórmulas para obtê-la se encontram generosamente espalhadas pela obra, constituindo-se em autêntico curso de acesso à celebridade, com a revelação de truques, rituais, dicas, maneira de se comportar em festas, o que beber, o traje adequado para cada circunstância, as grifes do momento, para onde viajar, como se aproximar de promoters, os profissionais que contratam para filmes, novelas, fotos, os lugares quentes para alguém conhecer celebridades e começar a se enturmar.Atenção: para o autêntico aspirante à fama tudo é válido, desde que sirva a seu objetivo maior. Indispensável esquecer escrúpulos, princípios, ética, o medo ao ridículo. O bom aspirante deve se acostumar a se curvar, trair, ser humilhado, virar lixo, desde que seja para conseguir seus nobres ideais. Se chegar lá, saberá como se vingar nos anônimos que surgirem em seu caminho. Afinal, a própria filosofia do século XXI reconhece que no jogo da vida vale tudo para se chegar à televisão.Mas, cuidado, a celebridade pode trazer em si os próprios elementos de destruição.Como observa Deonísio da Silva, "este é um livro que entristece e diverte".