Quando o século XXI dá seus primeiros passos, inaugurando o terceiro milênio, podemos olhar para trás e observar como foi rica a história recente da cultura brasileira. Talvez o fenômeno mais importante a ser destacado seja a evolução, ocorrida ao longo do século XX, das tradições afro-brasileiras. Foi nesse período que se desenvolveu a umbanda, resultante da fusão de crenças e práticas de origem européia, africana e indígena. Num primeiro momento, a nova religião apresentou uma feição fortemente calcada nos ritos bantos e sudaneses, entrando os outros elementos como acessórios a estes. E foi sob esta forma que a umbanda foi descrita por sociólogos, antropólogos e membros da religião, ao longo de várias décadas. Durante a segunda metade do século, entretanto, uma nova tendência começou a se delinear. Vários fatores concorreram para isso. Talvez o mais forte tenha sido o surgimento, nos Estados Unidos e na Europa, de movimentos de retorno à natureza e redescoberta do misticismo, que resultou na criação de escolas de magia e esoterismo inspiradas em antigas religiões naturais, na cabala judaica, na espiritualidade cristã e em tradições orientais. O novo pensamento esotérico divulgou temas mágicos, místicos e espirituais até então restritos a pequenos grupos; e esses ensinamentos foram experimentados e aproveitados pelas diversas correntes mágico-religiosas brasileiras. Esses novos elementos refletiram-se dentro da umbanda, que incorporou elementos novos e trouxe para o primeiro plano outros até então secundários. O resultado foi o desenvolvimento de uma umbanda renovada, nem sempre bem compreendida pelos tradicionalistas, e pontilhada de temas polêmicos como a eliminação dos sacrifícios animais, a reinterpretação da estrutura do mundo divino à luz das crenças espiritualistas modernas, e a adoção de práticas e materiais típicos da magia européia. É um equívoco criticar e minimizar a importância dessa tendência. Dentro do mais amplo espírito ecumênico, devemos dar espaço a toda contribuição séria para o registro desse panorama tão complexo que é o universo religioso e mágico do Brasil. Neste sentido, é bem-vindo este livro escrito por um sacerdote de umbanda, que conta com várias décadas de experiência religiosa, prestando serviço aos fiéis e preparando novos sacerdotes. O autor não faz proselitismo. Preocupa-se apenas em deixar registrados, de forma precisa, os conhecimentos que adquiriu ao longo dessa jornada. E ao fazê-lo, aborda temas raramente divulgados, como a descrição detalhada dos usos dos aromas associados aos orixás, a confecção das guias, a consagração das pembas, os pontos traçados e talismãs, a gira de umbanda, as imantações e obrigações, as cerimônias religiosas e o treinamento do médium. Esperamos que nossos leitores apreciem o valor desta obra, que poderá ter, para muitos, a virtude de desvendar um mundo nunca antes imaginado. Esta não é uma simples obra de pregação da filosofia que norteia a umbanda. Desejando compartilhar o conhecimento adquirido ao longo de muitos anos de prática como sacerdote, o autor faz um raro registro das práticas litúrgicas e mágicas da umbanda que já é chamada esotérica, e que promete ser uma das grandes forças místicas do terceiro milênio. Esta não é uma simples obra de pregação da filosofia que norteia a umbanda. Desejando compartilhar o conhecimento adquirido ao longo de muitos anos de prática como sacerdote, o autor faz um raro registro das práticas litúrgicas e mágicas da umbanda que já é chamada esotérica, e que promete ser uma das grandes forças místicas do terceiro milênio.