Tanto quanto Zaratustra ou Dioniso, o Nietzsche de Ecce Homo é uma criação conceitual e uma construção topológica, que se confunde com a própria obra em que é criado. Pois quem é esse livro senão uma hierarquia bem-lograda de instintos, conduzida a partir das exigências de um instinto dominante, que se quer sempre mais forte. Essa hierarquia tem de manifestar a si mesma retratando-se como um filósofo trágico, ou seja, um filósofo como "expressão" de forças poderosíssimas que, através de seus transbordamentos de potência, tomam a palavra para dizer um ilimitado e dionisíaco Sim ao eterno curso circular do universo. O Nietzsche retratado em Ecce Homo é um homônimo do filósofo "Nietzsche" que, como seus heterônimos, é a personificação conceitual e tipológica de um estado afirmativo de forças que encontrou ali a ocasião de exprimir-se.