Esta obra, Os Submundos das Cidades, procura analisar a inserção dos menores infratores no espaço urbano brasileiro, que tem como marca o signo da diferença. Diferença entre as experiências do viver de homens e mulheres que o habitam. Experiências diversas que constroem espaços distintos, que significam e moldam o meio, atribuindo-lhe uma multiplicidade de qualidades, de destinações, de usos e de símbolos. Dessa percepção das diferenças advém a crítica das noções totalizadoras sobre o espaço urbano. A cidade, a metrópole e, em particular, a Uberlândia entre os anos 60 e 90 sobrevivem apenas como generalizações, abstrações. Abstrações úteis, até mesmo porque possibilitam a compreensão de movimentos e processos mais gerais, mas que não podem, como um rolo compressor, apagar a complexidade do real e, ao mesmo tempo, polissêmico submundo dos menores infratores. Este, por sua vez, se constitui em um desafio para todo intérprete da história e, especificamente, àqueles que se dedicam a compreender sua dialeticidade, ou seja, em fazer com que o espaço urbano "homogêneo" se revele em suas múltiplas dimensões e contradições. Uma nova atitude é esperada: a de abandonar o espaço abstrato, onde se localizam homens abstratos, para ir ao encontro do espaço concreto, produto da ação de homens concretos. O espaço concreto, a cidade concreta é aquela do vivido, da experiência. Nesse espaço vivido, inscrevem-se as ações humanas que moldam, significam e constroem o seu lugar. Nele, também se encontram os jogos dos discursos ideológicos, as representações sociais, as projeções mentais do desejo, as utopias, os projetos dos homens e mulheres que produzem seu hábitat.