Os jogos cênicos que Flavio Goldman cria são sempre metáforas para processos psíquicos e diálogos filosóficos. Digo metáforas porque Flavio sempre vence a tentação de simplesmente transpor seus fantasmas para o palco. Ele os deixa, encarnados, dançarem por ali, como se não tivessem angústia ou medo. São textos que provocam uma profunda melancolia sendo muito engraçados. Não de um humor desbocado, escancarado. Nem tampouco sua ironia é corrosiva, agressiva. Ele nos desnuda com um sorriso carinhoso e solidário. Mas ao final não sobrou uma fantasia para nos proteger a nudez de humanos finitos e falidos. Teatro é gente ou não é nada. O teatro de Flavio Goldman é povoado por personagens que, à primeira vista, parecem tipos, caricaturas ou arquétipos mas que são tão humanos e tristes quanto qualquer um de nós. O grande drama é isso: um móbile espelhado que encanta o olhar e distrai a mente até que um relance de reflexo nos fere mortalmente. Descobrimos então que quem está no palco somos nós mesmos. E quem nos botou lá naqueles corpos de atores foi o dramaturgo. Aimar Labaki