Existem diferentes maneiras de resgatar antigas lembranças e recordações do passado. Ilene Beckerman decidiu registrá-las em desenhos. Amor, perdas e meus vestidosreúne coloridas imagens das roupas que a escritora norte-americana estava usando em momentos marcantes de sua infância, adolescência e início da idade adulta. Junto a cada uma das imagens, algumas poucas linhas, as quais, em uma primeira passada de olhos, parecem ter sido escritas de maneira desinteressada, mas que um olhar mais atento detecta sentimentos complexos. O primeiro dos desenhos remonta aos anos 40, mais precisamente à época em que Ilene tinha sete anos e preparava-se para a viagem até Camp Brady, um acampamento longe dos pais. Nesse período, ela pertencia ao grupo de fadinhas. A irmã, cinco anos mais velha, era bandeirante. Pelas lembranças de Ilene, no acampamento não havia eletricidade e banheiros com descarga. De forma descomplicada, Ilene vai retratando, a seu modo, a realidade de diferentes épocas e revelando sentimentos relacionados a cada período. Os relatos combinam comentários sobre tecidos, tipos de costura e os acessórios que Ilene, a mãe, a irmã e as amigas Gay e Dora usaram em diferentes ocasiões. A cada novo modelo, a cada novo vestido, o leitor toma conhecimento sobre as tendências e as novidades de um período, assim como de passagens importantes da vida de Ilene. A perda da mãe, o sumiço do pai, a convivência com os avós, as primeiras descobertas da adolescência. A trajetória da autora, da infância ao início da vida adulta, vai se revelando a cada novo desenho. Ilene escreveu Amor, perdas e meus vestidos quando completou 60 anos. Ela estava disposta a escrever um livro sobre a vida que teve antes do nascimento de seus cinco filhos. "Eles achavam que eu não tinha tido uma vida antes de nascerem, às vezes eu mesma penso se realmente tinha", escreve Ilene em uma curta apresentação em seu site. O resultado é um relato elegante e nostálgico da trajetória dessa autora estreante, que passou a limpo o que viveu das décadas de 40 a 90. O livro vendeu milhares de exemplares, alcançou a cobiçada lista dos mais vendidos do The New York Times, e serviu de inspiração para um espetáculo em Nova York, na Off-Broadway.