A estreia literária de Pedro Manzke, com o livro A irmandade dos cavaleiros probos (selo Escrituras) se dá com o pé direito, pelas asas do fantástico e nas crinas de um realismo sutil e mágico, na esteira de uma linguagem e estilo peculiares. O jovem escritor e médico gaúcho­-brasiliense cavalga com desenvoltura e versatilidade nessa curta e vigorosa novela em que o inusitado é perceptível desde as primeiras linhas, provocando uma instigante sensação de estranhamento, que desenca­deia no leitor a necessidade de mergulhar nas teias e labirintos da história. Como destaca Ronaldo Cagiano, no prefácio da obra, é natural que se estabeleça logo uma conexão com os romances de mistério, aventura, magia e lendas medie­vais, no entanto, essa filiação é apenas aparente. É que, no fundo, a opção por um universo ou ambiente narrativo em que o absurdo e o inusitado emulam a trama, é apenas um recurso de que se vale para falar da realidade presente com uma mirada não convencional, uma atitude estética que mistura crítica e irreverência, ironia e nonsense. No terceiro dia de vigília, estava frio e Max, sonolento, tremia em um banco de frente para o hospital. Quando recém-amanhecia, um sujeito estranhíssimo passou por ele. Em meio à névoa, surgiu este ser longilíneo, de chapéu e bengala. Deparando-se com meu colega trêmulo, o desconhecido retirou um terno cafona de listras lilás que vestia e envolveu-o em Max.No fim, vai dar tudo certo, disse o estranho, com uma voz calma e reconfortante, apertando seus ombros. Foi embora, deixou o terno. Pasmo, Max acreditou tratar-se de um profeta de tempos indeterminados, sabe-se lá se do passado ou do futuro, emergindo da névoa para tranquilizá-lo. Coincidência ou não, neste mesmo dia, a menina teve alta da enfermaria. (trecho de A irmandade dos cavaleiros probos)