A ideia humana de um ser divino - Deus, Javé, Alá - existe há mais de 4000 anos, mas tem uma história, visto que sempre significou algo levemente diferente para cada um dos grupos de pessoas que a usaram em várias épocas. A ideia de Deus formada numa geração por um grupo podia não ter significado noutra geração. Por conseguinte, não há nenhuma ideia imutável contida na palavra «Deus»; pelo contrário, ela contém um largo espectro de significados, alguns dos quais são contraditórios ou mesmo mutuamente exclusivos. Se a noção de Deus não apresentasse esta flexibilidade, não teria sobrevivido e não se teria tornado uma das grandes ideias humanas. Quando uma conceção de Deus deixava de ter significado ou relevância, era calmamente posta de lado e substituída por uma nova teologia. Um fundamentalista rejeita isto, visto que o fundamentalismo é anti-histórico: acredita que Abraão, Moisés e os profetas seguintes sentiram o seu Deus exatamente da mesma maneira que as pessoas de hoje. Porém, se olharmos para as três grandes religiões, torna-se claro que não há uma visão objetiva de Deus: cada geração criou a imagem de Deus que lhe servia. O mesmo é verdade para o ateísmo. O Deus que é rejeitado pelos ateus de hoje será o dos patriarcas, o dos profetas, o dos filósofos, o dos místicos ou o dos deístas do século XVIII? Este livro não é portanto uma história da inefável realidade de Deus em si mesmo, que está para além do tempo e da mudança, mas uma história sobre o modo como o homem o entendeu desde Abraão até aos nossos dias.