Podemos não nos trair e não trair? É essa pergunta à qual esta obra tenta responder. A traição repugna à nossa consciência de ¨puros¨, mas, afirma o Autor, ela é uma experiência inelutável. Depois de percorrer os dramas da solidão do amor em Eros e Pathos, também publicada por Paulus, Aldo Carotenuto aborda o delicado tema da traição, entendida como ato necessário para que a psique, ainda fechada em uma virgindade inconsciente e irrefletida, seja iniciada no mistério da vida e do amor. Com efeito, trair e ser traído significa ¨ser entregue¨ a um destino de procura, pontilhado de quedas e derrotas; significa reconhecer-se como um daqueles seres separados que, para reconstituir-se como sujeitos, devem libertar-se de ditames e modelos coletivos; devem, portanto, ¨trair¨. Todo indivíduo está sob o imperativo, inscrito na dinâmica evolutiva da psique, de emancipar-se de tudo o que o mantém fiel a uma imagem de si que não lhe corresponde, mas corresponde às exigências do ambiente social ou ao desejo de seus interlocutores. É por isso que no processo de individuação aparecem frequentemente situações de ruprtura, de fraturas inevitáveis, destinadas a marcar a história humana de cada um: da traição cometida pelos pais contra o filho ainda não nascido, mas já ¨imaginado¨, à que se dá na relação de casal, passando por outras formas, por outros rostos que ela pode assumir, menos habituais.