A Filosofia da Ciência sem a História da Ciência é vazia; a História da Ciência sem a Filosofia da Ciência é cega. O que, de fato, quisera dizer Imre Lakatos (192-1974) com essa sentença? Lakatos concebe que não há apenas uma, mas duas historiografias da Ciência: a historiografia externa e a historiografia interna da Ciência. Na primeira, a primazia recai sobre os condicionamentos socioeconômicos e políticos; na segunda, na explicitação da força lógica das teorias científicas ou, no dizer de Lakatos, dos programas de pesquisa. Por se apoiar nos aspectos lógicos, somente a segunda poderá possibilitar a reconstrução racional da História da Ciência, uma vez que a primeira termina por introduzir elementos irracionais, ao dar ênfase aos aspectos externos aos programas de pesquisa. Não obstante isto, Lakatos não descarta nem tem a historiografia externa como algo destituído de valor; pelo contrário, considera que a história real da Ciência ganha em aproximação e rigor quando se procura complementar a historiografia interna com a historiografia externa. É, pois, neste sentido que se deve entender a máxima acima. Detendo-se na concepção indutivista, tanto na versão do senso comum como na proposição de Rodolf Carnap (1891-1970), principal representante do Círculo de Viena, perpassando a posição dedutivista e falseacionista de Karl Popper (1902-1994) e examinando a proposta de Thomas Kuhn (1922-1990), o presente texto se ancora na estrutura da metodologia dos programas de pesquisa de Imre Lakatos para esboçar a possibilidade de construção racional da História da Química, de seus primórdios a Lavoisier.