Ela parou diante da porta e respirou fundo. Entrou. Mic estava de costas olhando pela janela tentando controlar a emoção. Virou-se devagar ao ouvir a porta bater. Ela estava parada encostada na porta fechada. A visão de um homem velho que ela mentalmente criara se desmanchou feito uma tela que se derretia atingida por algum solvente poderoso.Ele tinha a idade de Saulo, aquele velho traidor, mas ali estava o mesmo Mic que subira a bordo do Stella Maris há vinte anos. Um sentimento estranho de vergonha e culpa a invadiu. Ela se sentia velha e descuidada, e pensava que devia ter se amado mais, se cuidado mais. Passara vinte anos à procura de um sinal para poder enterrá-lo, mesmo que simbolicamente, através de um objeto qualquer que o identificasse. Ao invés disso ele estava ali à sua frente: magro, esguio, elegante, como sempre fora, com sua farda de gala impecável, seu cabelo amarrado atrás da nuca, que o deixava ainda mais sedutor. Mic abriu os braços para Hanna e ela voou em cima dele aos socos e tapas, totalmente transtornada, juntando raiva, vergonha e culpa, numa mistura que explodira entre lágrimas e palavras incompreensíveis.