Ao percorrer as fronteiras entre o discurso psicanalítico acerca da melancolia, a literatura sobre o sertão e a história da constituição do nosso país, Karla Patrícia Holanda Martins ilustra com sensibilidade e beleza até onde o pensamento exercido com rigor e criatividade pode nos conduzir. A leitura de Sertão e melancolia desnaturaliza alguns dos mitos fundadores da nossa brasilidade, indicando de que modo as representações que temos do sertão derivam de diferentes versões de uma narrativa melancólica: o sebastianismo redentor; a idealização romântica de Alencar; a terra ignota de Euclides da Cunha; a ironia ferina de Graciliano Ramos, portador da denúncia da grande mentira nacional. Entre um estilo e outro, somos provocados a refletir acerca do que entendemos por e, sobretudo, do que desejamos como Brasil. Karla nos adverte que inventar o Brasil implica reconhecer que habitamos um sertão. Sim, o deserto é fértil (saudades de Dom Hélder Câmara); a melancolia, Freud o demonstrou,(...)