Em preparação ao Tríduo Pascal, reflitamos sobre as palavras que Jesus dirigiu ao Pai durante a sua Paixão. Terminada a Última Ceia, Jesus pediu ao Pai que o glorificasse (cf. Jo 17,1.5). A glória, na Bíblia, se refere à ação reveladora de Deus. Jesus é aquele que revela de modo definitivo a presença de Deus através da sua morte na cruz. Para quem julgasse que a glória era poder e fama, Jesus mostra que a verdadeira glória é amor: uma entrega generosa e incondicional ao outro. Façamos nossa a oração de Jesus: peçamos ao Pai que retire os véus de nossos olhos, para que, nestes dias, olhando para o Crucificado, possamos compreender que Deus é amor. Quantas vezes o imaginamos patrão, e não Pai; quantas vezes o imaginamos juiz severo, em vez de Salvador misericordioso! Mas Deus, na Páscoa, anula as distâncias, mostrando-se na humildade de um amor que solicita nosso amor. Nós, então, damos-lhe glória quando vivemos tudo o que fazemos com amor, quando fazemos cada coisa de coração, como para ele (cf. Cl 3,17). A verdadeira glória é a glória do amor, porque é a única que dá a vida ao mundo. Sim, essa glória é oposta à glória mundana, que se manifesta quando somos admirados, louvados, aclamados: quando eu ocupo o centro das atenções. A glória de Deus, ao invés, é paradoxal: nada de aplausos, nada de audience. No centro não está o eu, mas o outro: na Páscoa, vemos que o Pai glorifica o Filho, enquanto o Filho glorifica o Pai. Ninguém glorifica a si mesmo. Podemos nos interrogar hoje: "Qual é a glória pela qual vivo? A minha ou a de Deus? Desejo somente receber dos outros ou também doar aos outros?". Já no jardim do Getsêmani, tomado de uma profunda angústia, Jesus se dirige ao Pai, com o termo carinhoso Abbá (cf. Mc 14,33-36), ensinando-nos a encontrar consolo e força junto do Pai, e a não cair na tentação da solidão e do isolamento.