“Exaurir a dança” nunca significou para mim acabar com a dança, acabar com o dançar, mas sim identificar de que modo vários coreógrafos e dançarinos, por via da dança, acharam fundamental detonar uma certa ideia ou imagem de dança que bloqueava o seu devir enquanto arte pois a obrigava, aliás a condenava, a um agito sem fim. Esse agito impedia a efetivação das promessas políticas, estéticas, teóricas e afetivas de uma dança que se interessava também por se tornar agente de intensificação do seu campo interventivo. Assim, “exhausting dance”, na sua ambivalência em inglês significa: uma dança que nos cansa, que nos suga a energia, que nos deixa no mesmo lugar por via de uma agitação sem pensamento e, ao mesmo tempo, indica também um desejo expresso por coreógrafos de repensar o que seria uma política intensiva de movimento, de esgotar essa ideia, ou imagem, ou imperativo estético dominante, que alinha a dança a um comando transcendente de movimento ininterrupto e a todo custo. André Lepecki