A casa que contém todas as coisas é uma frase que Virginia Woolf coloca na boca de uma de suas personagens, em As ondas, sendo, aqui, evocada para dar a justa medida ao livro de estreia de Raphael Matos Dourado. Esta casa, mais do que um quadrado de fundação e um triângulo sobre sua estrutura, é a metonímia do próprio poeta desdobrado em muitos cômodos. Em cada uma das páginas d’O rescaldo da casa sou eu, a intimidade do eu-lírico não é espiada por frestas ou brechas, revela-se, conscienciosamente, como um convite de quem já compreendeu com Raduan Nassar, antes libertando-se do que contrariando o mestre, que o quarto não é inviolável quando se deixa a porta entreaberta para A palavra irmão, /tatuada na retina; que o quarto pode, sim, assumir ares plurais quando se internaliza a sentença: antes de ser dois /é preciso ser sozinho; que o quarto é mundo e, também, catedral quando se reconhece que se vive enredado / por centenas de telhados. Nessa casa, além da linguagem do afeto(...)