O narrador deste romance – sem nome, sem idade e sem lugar de destaque – é o caçula de uma família em ponto de erosão. Em um fluxo frenético de pensamento derramado pelo cotidiano e por entre seus lugares escuros de consciência, ele nos apresenta sua realidade aquebrantada. O irmão promessa, o outro irmão ladrão, o pai beberrão, a mãe apagada e a avó sobrevivente são os átomos desse núcleo familiar e pano de fundo para episódios corriqueiros que compõem um mosaico da solidão. Os personagens de Otavio Linhares, a conhecer por sua trilogia de contos anterior a este Cavalo de Terra, transitam entre o escárnio e a tragédia, num registro oral que exige malícia e velocidade por parte do leitor. Suas vozes se misturam, se confundem e canibalizam, explicitam o cru e tropeçam na pobreza de seus repertórios. Cabe ao leitor encontrar a ferida afetiva e dar o diagnóstico emocional com base em seus gritos abafados.