Defendendo que o passado recebe seu sentido a partir da perspectiva de um pensamento presente em ato, este ensaio propõe uma orquestra de múltiplas tradições. Em harmonia com a observação das singularidades concretas e com uma programática desconfiança contra as generalizações, o que o paradigma antigo apresenta é o primado das relações de proporção como alternativa à hegemonia das classificações universais e abstratas. Nesse quadro teórico, o próprio discernimento entre o saudável e o patológico se faz em termos de uma distinção entre, respectivamente, um devir pessoal que não se deixa paralisar e um enrijecimento que compromete a aptidão do indivíduo para a multiplicidade simultânea - o espaço - e sucessiva - o tempo. Assim sendo, a estabilidade do objeto, que é uma condição epistêmica incontornável, poderia coincidir, no caso do conhecimento da vida psíquica, com a caracterização mesma da doença, de sorte que o psiquismo saudável, que não se fixa em nenhuma forma definitiva, tornar-se-ia incognoscível. A busca da solução para esse paradoxo é uma das principais linhas de força deste ensaio.