Essa possibilidade de tudo registrar, que hoje se testemunha com a profusão de camerazinhas, pode para muitos equivaler ao lado infernal do mundo que incessantemente se transmuda em imagens. O que fica patente aí é o aspecto desmesurado e alienante que se vai verificando entre o convívio da imagens e o que se pode de fato viver. Os nossos sentidos não costumavam captar nada disso até há pouco tempo. Outra experiência do disposito se alastrou. Se com o O homem da câmera (1920) Dziga Vertov e os kinoks deixaram clara sua proposta, a bravura de preferir em vez de filmar ficções artísticas dotar a sociedade de um instrumento de emancipação, ele não podia antever o quadro atual. Como na oferta do em-vez-de-peixe-a-vara-de-pescar, sua utopia soviética do Cine-Olho teria na câmera uma prodigiosa extensão do corpo humano; humano pensado na plenitude que se vislumbra com a liberação revolucionária da exploração de classe. Emancipada do jugo burguês a técnica poderia finalmente cumprir [...]