Em momentos de ser em Virginia Woolf, Clarice Lispector e Alice Munro, enfatizam-se traços, não de influência, mas do tratamento que as escritoras dão à memória e à escritura. A aproximação é feita com os momentos de ser, de Virginia Woolf: instantes vividos com intensidade que, retidos na mente, como um choque, revelam novos significados. Embora vivendo em contextos diferentes, suas estratégias refletem essas ocorrências. Clarice Lispector busca o instante-já, na rede de pequenos incidentes. Alice Munro, conectando pequenos detalhes, demonstra a desestabilização do cotidiano miúdo das personagens. Adotando a fragmentação, as escritoras rompem com a noção de gênero literário e favorecem a apresentação da angústia e do jogo de vida e morte. O trauma, encapsulado no movimento de recordar, repetir e elaborar, destacado por Freud, movimenta o processo transformador que o trabalho com o tempo, minuciosamente explorado pelas escritoras, exerce para a manifestação do silêncio. [...]