Adam, filho de cão, a obra-prima do escritor israelense Yoram Kaniuk, é relançada na Editora Globo, desta vez traduzida do original em hebraico pela professora Nancy Rozenchan, do Departamento de Línguas Orientais da Universidade de São Paulo (USP). O livro conta a história do palhaço judeu alemão Adam Stein que acaba como prisioneiro num campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Ao chegar, é reconhecido pelo comandante do local, o oficial Klein, dedicado nazista que lhe propõe uma troca de gratidão. Como certa vez a performance de palhaço de Adam havia evitado que o agora militar se matasse, em retribuição Klein pouparia a vida de Stein desde que este fizesse palhaçadas para os prisioneiros antes de serem encaminhados para a câmara de gás. Ele aceita esse sacrifício de horror que nada tem de engraçado e chega a fazer piadas para a própria esposa e filha. Stein sobrevive à guerra e descobre que uma das filhas está viva em Israel. Ao procurá-la no distante país, descobre que a moça havia morrido pouco tempo antes, durante um parto. Desesperado, ele tem um surto e passa a se comportar como se fosse um cão. E acaba internado num manicômio - onde os internos acreditam que ele é o messias e que o prédio foi construído para acelerar a sua chegada. Como diz o escritor e jornalista Moacir Amâncio, que assina as orelhas desta edição, Kaniuk escreveu um livro ao mesmo tempo fascinante, terrível e complexamente engraçado. "Isso, mesmo levando em conta o fato de que o autor é desses ficcionistas suficientemente fortes para superar desvios editoriais e lingüísticos, atingindo o leitor com sua escrita inquietante e renovadora, como foi bem percebido pela crítica, sobretudo fora de seu país - EUA, Noruega, França, Alemanha, etc". Amâncio é um especialista na obra do escritor. Em 2001, lançou Dois Palhaços e uma Alcachofra (Nankin Editoral), livro que nasceu como tese de doutorado na USP sobre Adam, filho de cão, na qual aproxima o autor da obra do arquiteto Frank O'Gehry