Num ato, uma caneca de porcelana abriga um poço. Em outro, dois corpos são um eclipse, (...) e cobre/com a luz/do seu dia/a minha noite. Camila Paixão olha para cima e inaugura uma cartografia íntima de um corpopoético que se contorce. Um buraco podeser tanto intruso quanto escape: o intercâmbio entre fora e dentro se articula em simbioses se entrar é inevitável, sair é urgente. Somos convidados a olhar para o passado e experimentar memórias que denunciam: os passos/ eram falsos. Sem a possibilidade de esquecimento, não há leveza no caminhar; o que há é peso, acúmulo e pressão. Em deve ser um buraco no teto, estamos diante de um corpo que fala mãos, boca, olhos, língua e garganta se colocam em movimentos de intradiálogos, subindo, à superfície da pele, as profundezas da alma. Se Paul Valéry estava certo quando disse que o mais profundo é a pele, então O corpo/é também/um caminho/a ser percorrido. Para o sujeito lírico, a palavra é um músculo que tensiona. [...]