Ao receber o convite do Yussef para escrever esta orelha, hesitei. Deparei-me, em todas as vezes que vi um homem branco escrever sobre povos originários, com histórias que pouco ou nada somavam à luta, mas que engrandeciam o seu ego e a sua carreira. Respondi que teria que ler a obra primeiro para, então, dar-lhe uma resposta. Sempre defenderei e reforçarei que são os nossos que devem contar as nossas histórias, mas vi uma responsabilidade e um cuidado na escrita e na postura do Yussef. Confesso que me tocou o fundo d’alma. Neste livro, Yussef Francis Kalume traz, por meio de um romance ficcional, uma história que, na realidade, acontece há mais de 500 anos. Rudá, personagem marcante da trama, nasceu como fruto de um amor entre Moara, uma mulher Moparã, e Iberê, um homem Jaguará. Com dupla etnia, cresceu sendo acolhido por duas aldeias. Até que ele, que sempre pôde escolher entre esses dois espaços, se viu, pela primeira vez, sem poder de escolha. Tudo era seu, mas era como se (...)