A criança tem tudo a aprender. O adulto tem sempre o desejo de a ensinar. Mas será que o que o adulto deseja ensinar à criança, corresponde ao que a criança deseja? O que se propõe, aqui, é um outro modelo de compreensão do que é, efectivamente, a aprendizagem da criança. O importante não é saber o que se deve ensinar à criança, mas como ela aprende, como constrói a sua pessoa e o seu conhecimento do mundo. A criança possui em si mesma os meios para o seu próprio desenvolvimento. O desenvolvimento da criança é uma autoconstrução, isto é, a criança é autora do seu próprio desenvolvimento, que se realiza num ambiente, porque ela vive e age num contexto determinado. É nesse contexto, de que o adulto faz parte, que os motivos ganham corpo e as actividades adquirem significado. O adulto deverá facilitar as interacções e inter-relações criança-ambiente, criando em torno dela uma atmosfera de confiança, de diálogo e respeitando a sua autonomia. Quando o ambiente é favorável e a criança é autónoma, ela constrói por si mesma os conhecimentos desejados pelo adulto e exprime-os espontaneamente. Impõe-se, assim, deixar as crianças existirem por si mesmas, deixá-las viver a sua autonomia e a sua experiência, enfim, reconhecê-las como pessoas.PIERRE VAYER, Ph. D., é actualmente director de Pesquisas no Instituto Piaget e professor consultivo. DENIS TRUDELLE, Ph. D., é professor na Faculdade de Ciências da Educação, da Universidade de Sherbrooke