O privilégio de ter convivido com Henriqueta Lisboa me levou a suspeitar da origem de seu intenso ofício poético. Duas atitudes distintas me surpreendiam, além de sua maneira refinada de estar diante do tênue fio da existência. Uma primeira, supunha vir de sua capacidade purificada de não se indignar diante dos mistérios que envolvem o ser humano e que jamais se revelam. Uma segunda, residia em seu constante exercício de deslocar-se de sua intimidade reflexiva para estar com o outro, tomando a poesia como matéria maior para inaugurar o diálogo. Por ser assim, toda a produção de Henriqueta Lisboa é um convite insistente para que não deixemos passar despercebidos nenhum dos elementos que nos rodeiam e nos espiam. Mas para tanto é necessário nomeá-los com palavras justas e escolhidas com fez o poeta. Todos os elementos buscados por ela, como objetos de trabalho, foram adjetivados com elegância e ganharam encantamento. Sua poesia, como me afirmava, não possuía destinatário por reconhecer que a beleza é propícia a todos. Como conhecedora da poesia construída ao longo da história da literatura, Henriqueta Lisboa nos presenteou com uma construção impecável em forma e em essência.