A partir de uma pesquisa fenomenológica em uma instituição que acolhe crianças e adolescentes com câncer, os autores refletem sobre como o brincar permite a esses sujeitos um outro olhar sobre o próprio tratamento e sugere a possibilidade de um ser-sendo na fugacidade da vida. Se o adoecer torna-se constitutivo de uma nova experiência de si no mundo, o brincar é uma oportunidade de tornar nova tal vivência e ressignificar também aquele espaço de acolhida e de tratamento. Na condição de brinquedistas e pedagogos, os autores nos colocam em contato com a história das brinquedotecas no mundo e, particularmente, no Brasil; seus fundamentos teóricos e metodológicos e suas implicações quando propostas a um ambiente da área de cuidados da saúde. A fenomenologia de Merleau-Ponty, bastante aprofundada na obra, permite ao leitor compreender que o ser-sendo criança se concretiza no mundo pela corporeidade, experiência e percepção. Ao brincar, o adolescente e a criança com câncer apontam para uma capacidade única de fazer de cada ocasião uma abertura para a vida, transformando-a, em meio à dor, em uma realidade que nos questiona a todos sobre o sentido da existência. A leitura nos remete aos meninos, meninas e adolescentes atendidos que são capazes de, pelo brincar, criar novas esperanças em seus corpos frágeis. Ainda merece destaque o fato de os autores captarem com sutileza que a brinquedoteca é também um espaço privilegiado de fala. De uma fala que traz o emaranhado que nós somos de percepções sobre nós mesmos, os outros e o mundo, questionando, inclusive, as práticas escolares. Por uma fenomenologia do brincar é um convite a volver o olhar sobre si e, longe de assumir uma postura de comiseração em relação àqueles sujeitos, saber-se desafiado no próprio corpo a experienciar outras percepções sobre aquelas flores que permaneceram de pé em meio ao forte vendaval.