Talvez os versos demorem a fazer ricochete. Emudece-nos a sua nudez que, enquanto acontece, não nos deixa desviar o olhar. Nada temos a acrescentar. Ficamos apenas esperançosos pela coincidência feliz de alguém, carregado de outras vivências, mais ou menos duras, leia as mesmas palavras e delas saiba extrair o que lhe tocar. Peter Handke, autor do Poema Duração, disse numa entrevista qualquer que há uma idade para a poesia: tem de se ser muito novo e, depois, tem de se esperar pela sabedoria e intensidade e tristeza e alegria, tudo junto. E, depois, que a poesia precisa não só de inocência, mas talvez de culpa e de inocência, de ambas. Nada percebo de poesia e menos ainda de que precisará ela, abomino fórmulas (embora seja sensível a preocupações formais) e tampouco creio em idades certas para se fazer algo. Comove-me ainda sentir o calor ou a dor por intermédio das palavras de alguém que nos dá o pulso a medir a temperatura. Temperatura essa normalmente não correspondente entre(...)