Sempre à procura do poema, o autor se apresenta como alguém de extrema atenção à luz e à sombra, e especula através da linguagem uma espécie de delicadeza inaugural. O papel da solidão é fundamental para adentrar os confins do pensamento, onde Afonso Henriques Neto surpreende tanto pela riqueza semântica quanto pela musicalidade: em meio a versos líricos como pensamento sem ossos/ sem estrelas, há ricas aliterações: ranjo e rujo escuro/raio raiva sombria lava. O poema Aqui do alto utiliza o recurso da anáfora e opera de maneira bela, enaltecendo igualmente sua forma e conteúdo estruturados em tercetos. Este livro se realiza, talvez, em duas diretrizes: por vezes, a partir daquilo que não é exatamente visto, mas sentido. O silêncio, o vento, o desvão, o eterno, o que nunca enxergamos na tarde a cair, braços vazios que não encontram nada. Outras vezes pelo arroubo de imagens em listas hiperbólicas, como no poema Coleção: Lâmina de rasgar nervos, a samambaia-azul, o pênis de seda, (...)