A Editora Globo acaba de publicar o pequeno romance Alarm!, de Roberto Muylaert, com prefácio de Roberto Duailibi. Pequeno (232 pp.), mas grandemente surpreendente. Surpreendente pela temática, a Segunda Guerra Mundial (e os crimes nazistas), tendo em vista o olhar comumente provinciano da ficção nacional. Surpreendente na linguagem: tanto por usar mais de um registro (o discurso direto, o narrador observador, o monólogo interior etc.), quanto por sempre manter o mesmo alto nível literário. E surpreendente por seu autor ser um homem conhecido por múltiplas atividades (ver abaixo), não incluindo, porém, a de romancista. O livro se baseia nas memórias e nas peripécias de Werner Hoodhart, um catarinense de Blumenau de origem alemã, que, nos anos 1940, se alista nas forças germânicas, e acaba num submarino que vasculha a costa brasileira. Num incidente que lembra, ao mesmo tempo, o Macunaíma de Mário de Andrade e o Catatau de Paulo Leminski, mas aqui abordado em clave realista (o que o torna, talvez, ainda mais instigante), acaba desertando por um gole de cachaça. A partir daí, o livro - que se encaixa à perfeição na definição de romance histórico -, passa a descrever de maneira detalhada o Brasil dos anos 1940, incluindo o litoral paulistano, o futebol da época e a cidade de São Paulo (sua geografia, paisagem, personagens, urbanismo e circunstâncias, como a falta de certos alimentos e o uso do gasogênio como combustível alternativo). Cabe aqui destacar que mais de um crítico já apontou para o fato de que a ficção brasileira costuma ser pródiga em retratar o Brasil agrário (romance regionalista) ou o Brasil das periferias urbanas, mas é falha em abordar o Brasil urbano, no sentido contrário ao das demais ficções contemporâneas (como a norte-americana). Pois Alarm! cumpre esse papel de maneira magistral. Três grandes momentos de um livro que - em que pese a pequena dimensão de uma obra sintética - jamais perde o tônus, o vigor narrativo, são a descrição do dia-a-dia dentro de um submarino militar, o "Fluxo de consciência" do capítulo do mesmo nome e a visão da guerra do ponto de vista de um menino (o paulistano Rodrigo). Se isso não é novo (nem haveria de ser, numa obra que não se pretende experimental), tudo é aqui mobilizado de forma precisa e potente, de modo a tornar a narrativa ao mesmo tempo multifocal e sintética, ou seja, de grande riqueza - o que lhe permite incluir, ainda, uma história de amor.