A junção entre a arte de fazer andar em fila - política - e o direito penal encontra, na mídia delivery, seu sintoma. A promessa de segurança e felicidade é mostrada de maneira abstrata e etérea, por meio de diversão e aparente felicidade. Essa grelha teórica implica, muitas vezes, atores jurídicos, sem que se deem conta de que algo vai mal, afinal sempre foi assim. Por isso a necessidade de se repensar as coordenadas em que fomos ensinados a compreender o direito e, caso tenhamos coragem, de as rever. As estratégias de sedução apontadas pelo sistema de pena e punição precisam ser revistas e assumidas ideologicamente, dado que a ilusão da Verdade Real e da aplicação neutra da lei, pelo pequeno trajeto que o livro apresenta, podem se desfazer. O crime passa a ser a diversão de um povo jogado na inautenticidade e que precisa ser alimentado, aliás, avidamente. Pena e prisão passam a ser as medidas solicitadas e a magistratura morre de medo de não julgar para torcida, para o povo que canta e sorri pedindo punição, linchamento, dado que seriam decisões impopulares. Criam-se figuras míticas, as quais procuram relacionar sua aura com a da salvação. A imagem é do sujeito que em nome do coletivo aceita flutuar sobre as normas, de maneira bruta, ilegal, grosseira, encarnando a figura do sobre-a-lei em face dos fins a que se destina. O efeito divertimento ao público é manifesto. Não se pode fazer controle social sério adornado pelo populismo. Entretanto, atende ao imperativo da massa que quer gozar, pela imagem que acalenta seu mal-estar constitutivo, criando, assim, toda uma erótica entre líder e público. O populismo premia o agente enquanto imagem, como a aura, com os atributos positivos, que poderá salvar. E a possibilidade de um salvador movimenta a massa. Não fosse um simulacro produzido para atender interesses outros, dado que reproduzem o ideário do status quo. O direito penal sabe-se, numa sociedade capitalista, defende o capital. Logo, os salvadores são, no fundo, defensores travestidos do capital. Em nome do bem manipulam a insegurança constitutiva do sujeito. Com isso o modelo cria novos personagens que, por seus fingimentos, tornam-se sedutores da prometida segurança. Encantam, distraem e apresentam as mesmas respostas de ontem, com nova roupagem: recrudescimento do sistema penal.