A obra de Machado de Assis continua sendo um problema e um enigma na cultura letrada brasileira e na literatura ocidental, a merecer diferentes abordagens e a resistir à decifração, ainda quando o arsenal teórico possa variar num arco muito amplo que pode ir da crítica literária tradicional mais impressionista às modernas, ou moderníssimas, correntes da semiologia e da semiótica nossas contemporâneas.Este livro é produto de um extraordinário esforço de aplicação das teorias semióticas mais recentes, de origem francesa com valiosas contribuições de lingüistas brasileiros, para o conhecimento da complexa enunciação, em seus níveis distintos, narrativa tomada como espécie de síntese superior dos procedimentos machadianos de elaboração literária.O que põe em xeque a velha noção estabelecida das duas fases; nem romântico nem realista, categorias que, pela leitura semiótica, não se aplicam aos textos do grande escritor, pois o que sobressai é a força da retomada machadiana da herança da sátira menipeia, com a qual ele inova e moderniza a nossa literatura, num trabalho muito original e pleno de conseqüências.