DA RELIGIOSIDADE A literatura e o senso de realidade de Vilém Flusser Os pequenos ensaios que perfazem o presente volume foram publicados em diversas revistas e no Suplemento Literário de O Estado de S.Paulo. A escolha dos ensaios obedeceu a um critério vagamente temático, que é o seguinte: a literatura, seja ela filosófica ou não, é o lugar no qual se articula o senso de realidade. E "senso de realidade" é, sob certos aspectos, sinônimo de "religiosidade". Real é aquilo no qual acreditamos. A presente coleção, composta por 17 ensaios, procura portanto mostrar como a tendência ocidental em direção de uma nova religiosidade se manifesta produtivamente na cultura brasileira. É neste sentido que pode ser tomada como um esforço em prol da elaboração de uma filosofia da literatura brasileira. Vilém Flusser nasceu em Praga em maio de 1920. Ainda como estudante da Universidade Karlov, foi expulso pelos nazistas em 1939, vindo para o Brasil. Chegou ao Rio de Janeiro em 1940 e em seguida fixou residência em São Paulo/SP. A partir de meados dos anos 50, dedicou-se ao trabalho intelectual, participando do Instituto Brasileiro de Filosofia, lecionando na Escola de Arte Dramática e no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, e escrevendo no Suplemento Literário de O Estado de S.Paulo e na Revista Brasileira de Filosofia. Entre 1963 e 1971, colaborou com o Prof. Milton Vargas, a quem posteriormente substituiu, ministrando a disciplina Filosofia e Evolução da Ciência, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Em 1972, mudou-se para a Itália, depois foi para a França, iniciando uma contínua atuação como conferencista em vários países da Europa, sobretudo na Alemanha, mantendo sempre viva a relação afetiva e profissional com o Brasil. Publicou em diversos países, sendo alguns títulos originalmente em português, com destaque para Naturalmente: mente - Vários acessos ao significado de Natureza; Pós-História: Vinte instantâneos e um modo de usar; Filosofia da Caixa Preta, Ficções Filosóficas. O presente texto foi publicado inicialmente em 1967 na Coleção Ensaio, do Conselho Estadual de Cultura/São Paulo, passando a integrar, a partir de agora, a Coleção Ensaios Transversais, da Escrituras Editora.